Há quatro anos, Barack Hussein Obama era um político anónimo, que prestara serviço durante sete anos no Senado estadual do Illinois. A sua eleição para o Senado federal, em Novembro de 2004, produziu grande surpresa entre os analistas políticos – quase tão grande como a sua decisão de se candidatar à Presidência, apenas dois anos depois.
Era negro, tinha um nome esquisito muçulmano e era um desconhecido do grande público.
Como se não bastasse, a sua campanha esbarrava numa
“inevitabilidade” chamada Hillary Clinton: uma candidata com o nome político mais famoso da América, esposa de um Presidente popular, que vive no tecto do mundo há quase duas décadas, senadora pelo terceiro maior Estado americano, apoiada por toda a máquina política do partido e suportada por grandes financiadores.
Em Novembro de 2007, Hillary tinha vantagens de 30 pontos nas sondagens nacionais e era apoiada por 208 superdelegados, contra apenas 18 de Obama (todos oriundos do Illinois). A
história do seu triunfo assemelha-se por isso a um conto de fadas. Obama começou por vencer num Estado com 96% de brancos, o Iowa. Conquistou o eleitorado afro-americano, que não o via como um dos “seus” (Obama é filho de mãe branca e cresceu no Hawai e na Indonésia), obtendo vitórias notáveis no Sul. Esmagou Hillary nas grandes planícies, obtendo o respeito de um eleitorado muito conservador. E manteve-se estranhamente perto em Estados que nunca tinham ouvido falar dele: em Nova Jérsia, no Massachusetts, em Nova Iorque, na Califórnia.
Seis meses depois, Obama resistiu a uma série de polémicas que teriam destruído muitos políticos experientes (o caso do “pastor Wright”, por exemplo), venceu 34 eleições, bateu todos os recordes de angariação de fundos,
gerou uma mobilização do eleitorado nunca vista (votaram 35 milhões de pessoas nas Primárias Democratas; o recorde remonta a 1988, quando votaram 22 milhões), conquistou a maioria dos delegados e derrotou Hillary Clinton. Não
há leituras racionais que resistam perante a improbabilidade desta narrativa.