sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Eleições americanas: ponto da situação

Um pouco de matemática. Apesar de Hillary Clinton ter obtido vitórias importantes na Super Terça-Feira, uma prestação notável de Obama em Estados de tamanho médio durante as últimas semanas garante-lhe para já a liderança. Obama conquistou 1184 delegados nas Primárias, contra 1031 de Hillary (dados CNN). Estes números são contudo inconclusivos, pois os Democratas atribuem um voto por inerência a várias figuras políticas do Partido (titulares de cargos públicos) – os chamados “superdelegados”.

Estes delegados têm presença garantida na Convenção e podem escolher um candidato livremente. Até ao momento, 236 manifestaram o seu apoio a Clinton e 185 a Obama, o que colocaria os resultados totais em 1369 para Obama contra 1267 de Clinton. No entanto, os superdelegados podem mudar de opinião em qualquer altura, o que baralharia estas contas; isto para já não falar dos cerca de 400 superdelegados que ainda não se pronunciaram a favor de nenhum dos candidatos.

Luzes e sombras. Estamos perante um impasse duradouro? Há motivos para não excluir um cenário de prolongada indefinição eleitoral. Como os Democratas adoptaram um sistema proporcional nas Primárias, só vitórias muito expressivas criam diferenças significativas entre os candidatos – e essas têm sido raras. O equilíbrio tem sido a nota dominante e, caso se mantenha esta disputa renhida, a indecisão pode mesmo arrastar-se até à Convenção em Agosto.

Os dados parecem contudo indicar uma tendência diferente. Nas últimas semanas, Obama tem batido Hillary em múltiplas variáveis. Venceu dez eleições consecutivas, criando uma impressionante dinâmica de vitória. Obteve apoios de vários sectores relevantes, desde figuras do Partido aos poderosos sindicatos. Angariou milhões de dólares para sustentar uma campanha multifacetada, que bate Hillary nos anúncios televisivos e na organização de grandes comícios. E as sondagens indicam que ele é já o preferido a nível nacional.

A queda de um anjo. Hillary, pelo contrário, tem acumulado derrotas políticas em toda a linha. A sua campanha dá sinais de clara desorganização, denotando dificuldades para enfrentar o “fenómeno Obama”. A utilização de comentários depreciativos em relação ao seu adversário, o tom negativo da campanha e os sinais de irritação demonstrados nas últimas semanas prejudicaram-na gravemente.

A sua campanha cometeu também vários erros estratégicos. Hillary julgava-se amplamente favorita e concentrou esforços para obter uma vitória esmagadora na Super Terça-Feira. Esse cenário não se verificou, deixando Hillary sem uma estratégia para as Primárias seguintes. Debatendo-se com problemas financeiros e dificuldades logísticas, Hillary chegou mais tarde aos Estados do que Obama e desprezou eleições que lhe podiam ter sido favoráveis (Maine, Virgínia, Wisconsin). As sucessivas derrotas trouxeram vulnerabilidade à sua campanha e lançaram dúvidas entre os seus apoiantes.

O que se segue? Na próxima terça-feira votam quatro Estados. Obama é favorito no Vermont e Hillary em Rhode Island. Estes são no entanto Estados pequenos, pelo que as atenções vão estar viradas para o Ohio e o Texas, que no total valem 334 delegados. Hillary precisa de duas vitórias claras para estancar o “momentum” de Obama e inverter a sua tendência perdedora.

Caso contrário, a sua campanha estará ferida de morte. Hillary poderá até continuar mais algumas semanas (a Pensilvânia, um Estado muito populoso, vota dia 22 de Abril), mas Obama terá reforçado a sua candidatura e não deixará de sublinhar que Hillary dispunha de vantagens colossais nesses dois Estados há apenas um mês atrás.

Previsões. As sondagens mostram que Hillary tem motivos para estar preocupada. Quatro das últimas cinco sondagens no Texas dão vantagem a Obama; e a mais recente (da Rasmussen) mostra o Senador do Illinois com quatro pontos de vantagem. O Ohio é terreno mais favorável a Hillary (últimas sondagens mostram vantagens na ordem dos 5%), mas Obama recuperou 15 pontos em apenas duas semanas – e faltam ainda quatro dias para as eleições. Todos os dados apontam para que 4 de Março seja mesmo o dia da capitulação de Hillary Clinton.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Anti-americano, eu?

Aqui há uns dias, ouvi Alfredo Barroso falar sobre economia na SIC Notícias (no Frente a Frente, creio). Referindo-se à crise do sub-prime (seja lá o que isso for), Barroso afirmou, com grande pesar: “infelizmente, os Estados Unidos ainda são a maior economia mundial”.

Infelizmente, indeed! Mas que não desespere o comentador! Os dias do grande capitalismo americano estão contados... Em breve a China ocupará essa posição cimeira. E, naturalmente, a economia mundial passará a ser então mais racional, justa e equitativa, obedecendo a critérios estritamente sociais, respeitando plenamente os direitos humanos e cumprindo os sonhos dos mais desfavorecidos.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

O palhaço e o espectro

Diz-se por aí que a política da Saúde melhorou muito com a entrada da nova ministra, Ana Jorge. Tenho as minhas dúvidas, confesso. Deve ser azar, mas sempre que ligo a televisão, a dita cuja encontra-se em passo largo, fugindo dos jornalistas em direcção a portas laterais obscuras ou saídas pelas traseiras. A muito custo, lá lhe ouvimos um “falarei na altura própria”, ou “iremos analisar a questão” ou talvez mesmo “estamos a ponderar todos os elementos do problema”, segundos antes da senhora desaparecer do ecrã sem deixar rasto.

Correia de Campos sofria de incontinência verbal e tinha uma infindável sede de protagonismo. A nova ministra padece de uma timidez patológica e parece ter uma grave alergia à tomada de decisões. Esta gente precisa de ir ao médico com urgência.

O euro já vale um dólar e meio

Nunca foi tão bom fazer compras na Amazon.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

o horizonte sensível, 10

Madagáscar, 2007

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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Os Óscares num minuto

Uma cerimónia absolutamente enfadonha. Salvaram-se Nicole Kidman (deslumbrante) e o anfitrião Jon Stewart. Nenhuma surpresa para apimentar a noite, à excepção talvez da vitória de Tilda Swinton (Actriz Secundária em “Michael Clayton”). Um pesadelo assistir às canções xaroposas a concurso. Uma infinidade de prémios técnicos que não interessam a ninguém. Discursos de circunstância, sem um pingo de brilhantismo. Os agradecimentos de sempre (aos pais, aos produtores e a Deus, quando calha).

Do bom e do melhor só mesmo a tirada política da noite (de Jon Stewart, claro): “As eleições deste ano estão a ser muito divertidas. É bom poder ver tantos candidatos, para depois escolhermos em que Democrata vamos votar.”

Da avaliação dos professores, 2

Um professor que seja bem avaliado "progride na carreira", expressão esta que em Portugal significa que o professor fica cada vez mais eximido de dar aulas. Ora, quanto menos aulas sejam dadas, menos se educa e se avalia, pelo que o professor bem avaliado acaba por se tornar inavaliável.

Mas se o prémio para uma boa avaliação for a ocupação de uma inavaliabilidade, então a avaliação é castigo a priori, pois se o não for o seu contrário não pode constituir prémio para a boa avaliação. Se a avaliação dos avaliadores fosse condição sine qua non para uma melhoria da educação avaliadora, então quanto maior fosse a "progressão na carreira", maior a necessidade de avaliação.

Esta maior necessidade de avaliação acarretaria maior necessidade de avaliação aos avaliadores dos avaliadores, por o acréscimo de responsabilidades ser proporcional entre o avaliador primeiro e o avaliador segundo. Por seu turno, maior seria a necessidade de avaliar os avaliadores dos avaliadores dos avaliadores, e assim sucessivamente, ad infinitum.

Creio ter uma ideia melhor: porque não tornar simplesmente os alunos em educadores e os educadores em alunos? Já que se pretende subverter a ideia de ensino, façamo-lo plenamente.

domingo, fevereiro 24, 2008

Da avaliação dos professores

Um professor é, por inerência, um educador e avaliador. Avaliar um professor será afinal avaliar o avaliador. Mas se o avaliador carece de avaliação, também assim o avaliador do avaliador, e o avaliador do avaliador do avaliador, e assim sucessivamente, porventura ad infinitum.

Talvez a espiral de avaliação pudesse ser parada apenas com o único avaliador inavaliável de uma democracia: o povo. Nesse caso, não seria já preferível votarmos não em políticos com "ideias" para a educação, mas directamente nos próprios professores?

Voltando ao que interessa

Tozé Marreco marcou mais um golo, na goleada do Zwolle frente ao Maastricht, na 29.ª ronda da II Divisão holandesa. Marreco facturou assim o seu 15º golo da época. Dá-lhe, Tozé!

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Um país em ruínas

Um interessante exemplo do notável trabalho do IPPAR. Definitivamente, Portugal tem uma maneira muito própria de (não) preservar o seu património...

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

As cheias (II): o caso "Setúbal"

Para quem conhece bem Setúbal e as suas condições recentes de deterioração, tal Veneza em contozinho de Thomas Mann, não pode deixar de acreditar haver nestas cheias alguma subtil mensagem da natureza, quiçá divina, às formiguinhas humanas que por lá habitam.

No fundo, é como se um poder todo natural dissesse à mais suja das cidades: se te não lavas, dar-te-ei banho à força...

As cheias (I): José Gil e a não inscrição lusa


O português ama de maneira tal os seus rituais que até as suas fugas à rotina têm de cumprir a constância de um ritual. As cheias invernais e os incêndios veranais constituem prova disso.

Muito me tenho lembrado por este dias então do textozinho simpático de José Gil sobre a amorfia temerosa desta erva daninha no jardim de beira-mar da Europa, à qual chamamos Portugal. Nesse texto, José Gil menciona um "princípio de inscrição" na sua vertente lusa de "princípio de não inscrição": nada em Portugal se inscreve, se cunha nas tábuas da memória de uma existência em colectivo.

Começo a crer contudo que a não inscrição em Portugal é apenas a modalidade específica que toma a inscrição de si do português: a não inscrição é coisa celebrável e não criticável, é uma rotineira fuga à rotina, e como tal divertida marca da uniformidade de um povo.

Talvez por isso é que todo um país se comove e gira em torno de algo que vemos todos os anos, vezes sem conta, sempre com o olhar da criança que vê todas as coisas pela primeira vez. Não limpar sarjetas afinal é em simultâneo a não inscrição na memória das cheias passadas e a inscrição na existência de si da expectativa da emoção com as cheias futuras...

Obama vence no Wisconsin

As últimas semanas têm sido um pesadelo para Hillary Clinton. Oito derrotas consecutivas são um número impressionante, mas os resultados de hoje podem ter sido a machadada final. Esperava-se uma vitória de Obama, mas não com uma clara vantagem de 17 pontos percentuais. Pior que esse facto, são os dados recolhidos à boca das urnas, os quais indicam que Hillary perdeu o apoio do eleitorado que até aqui lhe vinha sendo fiel.

As mulheres dividiram-se entre os candidatos; os votantes com menores rendimentos (abaixo de 50 mil dólares/ano) preferiram Obama (54% contra 44%); a faixa etária entre os 40 e os 64 anos (que representa mais de metade dos votos) escolheu Obama por margens superiores a 10 pontos; e 56% de entre os menos instruídos (sem um diploma universitário) votaram igualmente Obama.

O cenário é portanto de perda acentuada para Hillary, que persistiu numa estratégia inspirada em Rudy Giuliani, com péssimos resultados: concentrou esforços na Super Terça-Feira e nos dois grandes Estados do Ohio e Texas (que votam dia 4 de Março), mas desvalorizou as eleições que decorreram entre essas duas datas. Tratavam-se de Estados mais pequenos, é certo, mas as derrotas sucessivas provocaram uma nítida desmobilização entre o seu eleitorado.

Obama lidera na contagem de delegados e as sondagens revelam aproximações no Texas (onde chegou a ter desvantagens de 30 pontos) e no Ohio (embora neste último a vitória de Hillary seja praticamente certa). Será que ainda vamos ter mais surpresas, ou 4 de Março poderá mesmo ser o dia de confirmação de Obama como o vencedor Democrata?

À Direita Nada de Novo

McCain venceu no Wisconsin por uma margem folgada e será o candidato do Partido Republicano nas eleições de Novembro. Mas continua a revelar dificuldades para convencer o eleitorado mais conservador, sem o apoio do qual não terá hipóteses de obter a Presidência.

Os números são esclarecedores: entre os eleitores “evangélicos”, Huckabee venceu com 56% contra 36%; 42% dos votantes consideraram que McCain “não é suficientemente conservador”; e entre os eleitores que se definiram como “muito conservadores”, McCain perdeu por 13 pontos.

Mike Huckabee reiterou a intenção de permanecer na corrida enquanto tiver hipóteses matemáticas de conquistar a nomeação (uma impossibilidade na prática, todavia). Huckabee pretende reforçar o seu peso junto do eleitorado conservador, o que poderá favorecer a sua escolha para Vice-Presidente (ao lado de McCain) ou talvez mesmo a repetição de uma candidatura presidencial em 2012.

Em todo o caso, são más notícias para McCain, por duas razões. Por um lado, porque a presença de Huckabee é um obstáculo político que o afasta ainda mais do eleitorado conservador. Por outro lado, porque obriga McCain a prosseguir a sua campanha, investindo fundos que poderia poupar para a eleição nacional.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Duvidanças de uma mente curiosa, 75


Inquire-se: 50 anos de revolução não é suficiente para os revolucionários se tornarem conservadores e os conservadores se tornarem revolucionários?

A décima vital

Há um momento na entrevista de Sócrates à SIC que resume bem a mediocridade do nosso primeiro-ministro. Estando em causa a apreciação ao crescimento da economia portuguesa, Sócrates afirmou a dada altura: “Os especialistas previam um crescimento de 1,8%, mas afinal Portugal cresceu 1,9%”.

Isto é Sócrates no seu esplendor, um misto de desfaçatez, hipocrisia e tacanhez. Pois Sócrates sabe bem que, do ponto de vista das análises económicas, 0,1% não pode ser observado como um dado taxativo, pois o que está em causa são estimativas. Numa análise estatística, esse 0,1 % – que tanto orgulha Sócrates – é totalmente irrelevante, pois encontra-se dentro de uma margem de erro e numa zona de incerteza que alguém muito desavergonhado seria capaz de transformar numa vitória política.

Isto, claro, para já não falar do ridículo em que incorre o primeiro-ministro, se compararmos estes dados com outros países ocidentais. Pois a Espanha e a Grécia cresceram, no mesmo período, 3,8%, a Irlanda continua a crescer acima dos 4% e nos Estados Unidos um crescimento abaixo dos 5% é considerado uma crise económica grave. Mas que importa tudo isto, se crescemos uma décima acima do que os especialistas previam?

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Sobre as "saídas profissionais"

Vasco Pulido Valente, quando não escreve sobre a Lei do Tabaco, resume bem problemas complexos: “Dos 60.000 licenciados no desemprego [...] nasceu recentemente uma tese peregrina: a tese da «empregabilidade» dos cursos, que sustenta a existência de cursos com ou sem «saídas profissionais». [...] Só que as sobreditas «saídas profissionais» não dependem essencialmente do curso, dependem da habilitação e da capacidade.”

Com efeito, o debate sobre o ensino superior está minado por reflexões demagógicas e preconceitos pessoais, derivados da formação dos gabinetes ministeriais, atafulhados de gestores, economistas e uns quantos fanáticos defensores do “choque tecnológico” (seja lá o que isso for). Para este grupo de tecnocratas, os cursos oferecidos no ensino superior dividem-se em dois conjuntos: os cursos que dão emprego e os que não dão. Pelo que naturalmente cabe ao governo fechar os segundos e promover os primeiros.

Felizmente, esta visão idílica dos burocratas da “Esquerda Moderna” esbarra com um daqueles “factos da vida” que a realidade não deixa de nos atirar aos olhos: os cursos por si só não habilitam para coisa nenhuma, como também não desabilitam. O busílis da questão, dito de outro modo, não reside no facto de os cursos darem muito ou pouco emprego, mas sim na qualidade de quem os frequenta.

Os bons alunos, mesmo aqueles que frequentam cursos pouco procurados (nas humanidades por exemplo), têm excelentes possibilidades de triunfar no mercado de trabalho, porque possuem uma série de competências que serão úteis nas mais diversas áreas de emprego. Ao invés, mesmo os alunos medíocres de cursos tão valorizados como Gestão, Economia ou Direito, sairão da universidade pouco melhor do que entraram e dificilmente conseguirão triunfar num mercado de trabalho que, por muitos defeitos que tenha, possui um faro especial para detectar a imbecilidade em jovens candidatos.

sábado, fevereiro 16, 2008

Isto não tem nada a ver com a inépcia das autoridades

Foram apreendidas nove cartas de condução em Portugal nos últimos três anos. Três cartas por ano. Uma apreensão de quatro em quatro meses.

E ainda dizem que Portugal é um país de maus condutores.

E eu sou o Rato Mickey

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

O fenómeno Obama

Por sugestão do Pedro Magalhães, assisti a uma comunicação de Michael Werz no ICS, um especialista em política pública, que discursou sobre as eleições americanas. O momento alto da conferência foi a sua digressão em torno de Barack Obama. Werz sublinhou o carácter sobrenatural da sua candidatura, que se alicerça em dois domínios.

Por um lado, no magnetismo dos seus discursos (inspirados de uma dimensão religiosa), capazes de entusiasmar enormes plateias, eventualmente pouco versadas em questões políticas mas que se vêem hipnotizadas pelo carisma do candidato. Werz deu o exemplo de pessoas que não conseguem recordar uma única frase de um discurso, mas que confessam terem ficado marcadas por ele durante vários dias.

Por outro lado, a história pessoal de Obama reforça o carácter messiânico dos seus discursos. Em situações normais, a sua falta de experiência e juventude seria um ponto fraco da sua candidatura, mas, nestas circunstâncias, apenas parecem reforçar o seu apelo de mudança, como se ele próprio encarnasse a mensagem de esperança que apregoa.

Afinal, ele é o candidato impossível – um negro nascido no Hawai, abandonado pelo pai, educado pelos avós, sem antepassados famosos, sem ligações directas ao poder, sem uma experiência de guerra, sem uma história política relevante. Obama é de facto a incarnação do “sonho americano”.

Obama tornou-se assim um símbolo para todos aqueles que a sociedade moderna tornou amorfos e descrentes. O cidadão comum olhou para Obama e, de algum modo, viu nele reflectido a pouca esperança que ainda lhe restava, e logo se prestou a acreditar em Obama como uma última oportunidade para cumprir as suas expectativas desfeitas. Nisto reside a sua maior força, mas também a sua maior fraqueza, sublinhou Werz.

Pois Obama foi colocado num patamar divino, num lugar onde nenhum ser humano pode concretizar os sonhos políticos da realidade mundana. As expectativas são colossais e Obama, por mais empolgante que sejam os seus discursos, nunca poderá estar à altura. Este facto torna-se ainda mais preocupante quando vemos Obama – talvez para protecção própria – a evitar uma discussão objectiva das questões políticas, refugiando-se em declarações ambíguas. Mas como pode, afinal, um candidato sobrenatural falar deste nosso mundo imperfeito e complexo?

Este é o grande dilema de Obama (e Werz não deixou de insistir que esse deve ser também o nosso maior receio): se descer à Terra e se apresentar como um candidato humano, com um determinado programa político, põe em risco os contornos messiânicos da sua candidatura e pode perder a Casa Branca. Mas se não o fizer, pode sentir na pele o mesmo que o outro Messias, o Cristo, sentiu: a inabilidade para responder, neste mundo, às expectativas que toda uma comunidade colocou sobre os seus ombros. E não será um espectáculo bonito, a crucificação política de Obama neste nosso tempo.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Advocacia e Lavandaria, Lda. (II)

Já vem tarde, mas é provavelmente um bom complemento ao post do André, que subscrevo na íntegra. Um momento inesquecível da política nacional, com Júdice a comparar Marinho Pinto a Chávez e Mussolini, chamando-lhe “populista” e “gordo”. Notável.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Advocacia & Lavandaria, Lda.


José Miguel Júdice tem vindo a especializar-se numa área do direito que se não aprende nas faculdades, mas apenas pela experiência: a lavagem de roupa suja. Ele é o Eleven, ele é Marinho Pinto, ele é Sá Fernandes...
O melhor de tudo é que José Miguel Júdice é extremamente eficiente nessa actividade, pelo que o seu negócio se vem expandindo em inúmeras sucursais: Público, SICNotícias... E ainda faz serviços para fora, em outros estabelecimentos vários.
Quando será então que este eminente advogado opinará sobre algo de interessante?

E vão mais três...

... para Obama: Virgínia, Washington D.C. e Maryland, com números espantosos (64%, 75 e 63, respectivamente). São oito vitórias consecutivas desde a Super Terça-Feira. A candidatura de Obama adquiriu nesta última semana uma dinâmica impensável, gerando entusiasmo em todos os quadrantes sociais, culturais e políticos. Os resultados são claros: Obama ganhou em todos os escalões etários, ganhou entre os desfavorecidos e os ricos, as elites e os menos educados, ganhou em todas as denominações religiosas, triunfou entre os progressistas, independentes e conservadores, ganhou entre os negros, e – pasme-se – foi o mais votado pelas mulheres, pelo eleitorado branco (na Virgínia) e até mesmo pelos hispânicos (ver dados aqui).

A versão oficial de contagem dos delegados é complexa e demora várias semanas a ser divulgada. Contudo, a estimativa da CNN, por exemplo, mostra que Obama ultrapassou esta noite Hillary Clinton, reunindo o favoritismo pela primeira vez nestas eleições. Por seu turno, Hillary vai dando sinais de desgaste: no Domingo passado demitiu a sua directora de campanha e anteriormente viu-se forçada a injectar 5 milhões de dólares da sua conta pessoal para financiar a candidatura.

As Primárias do Ohio e do Texas (4 de Março), que muitos antecipavam como o fim da linha para Obama, parecem vir a ser agora um derradeiro teste à sobrevivência de Hillary. Só duas vitórias expressivas nestes Estados de grande relevância (389 delegados) poderão inverter a actual tendência, muito favorável ao senador do Illinois.

A noite ambígua de McCain

À semelhança de Obama, McCain obteve triunfos nos mesmos três Estados, embora apenas com uma vantagem ligeira na Virgínia. A nomeação Republicana já não lhe pode fugir – até porque Huckabee e Ron Paul são dois adversários bastante frágeis – mas em termos políticos McCain continua a ter motivos de preocupação. Os dados recolhidos indicam que o eleitorado conservador (em particular a “Direita Religiosa”) continua a negar-lhe um voto de confiança. Apesar de ter obtido 55% dos votos em Maryland, McCain conseguiu apenas 36% entre os eleitores que se definiram como “evangélicos”. E na Virgínia verificou-se uma situação quase idêntica: 31% de votos “evangélicos” num resultado total de 50%.

McCain não necessita de angariar fundos para prolongar a sua campanha contra adversários ferozes, mas precisa de travar uma dura batalha para convencer os sectores mais radicais do seu Partido de que ele é o candidato certo. Algumas figuras centrais do Partido já lhe demonstraram apoio (Bush discursou a seu favor esta semana), mas as bases parecem bem mais relutantes em fazê-lo.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Como me tenho sentido por estes dias

Quino, claro...

a arte da fuga, 23

Maurice de Vlaminck, Natureza Morta, 1907

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100% garantido

Uma das certezas da política portuguesa é o facto de estar permanentemente mergulhada numa absoluta modorra.

Mundial 2018

As notícias de que Portugal considera a hipótese de organizar o Mundial de Futebol em 2018, juntamente com a Espanha, foram recebidas com repúdio na imprensa e na blogosfera. Percebo que a crise económica actual, aliada à experiência francamente megalómana do Euro 2004 (com a construção exagerada de dez estádios), justifique algumas reticências, mas a ideia não é totalmente descabida.

Portugal tem um parque desportivo herdado precisamente do Euro 2004 que estaria disponível para o Mundial, parque esse que poderia ser rentabilizado como nunca numa competição extraordinariamente mediática. Com os estádios construídos, Portugal não precisaria de investir em infra-estruturas, bastando-lhe fazer alguns ajustes nos acessos e nas condições hoteleiras para receber os visitantes. Um custo mínimo face ao enorme retorno económico que a recepção de um Mundial obviamente geraria.

domingo, fevereiro 10, 2008

Obama soma e segue.

Mais quatro triunfos – Louisiana, Nebraska, Washington e Ilhas Virgens – e com vantagens esclarecedoras (21, 36, 37 e 80 pontos, respectivamente). Obama tem agora praticamente o mesmo número de delegados do que Clinton, e acentuou uma dinâmica de vitória que tem feito crescer a sua campanha de dia para dia.

Alguns comentadores preguiçosos continuam a chamá-lo o candidato dos “negros” e dos “jovens”, mas uma análise dos resultados mostra algo mais. Obama obteve vitórias em Estados onde os negros representam menos de 5% da população (Kansas, Idaho, Utah, Colorado, Nebraska, Iowa). Por outro lado, os eleitores com menos de 30 anos não chegam a 15% do número de votantes nestas Primárias. É evidente que Obama tem mobilizado estes dois segmentos eleitorais (os negros e os jovens), mas a sua mensagem tem chegado facilmente à classe média, a faixas etárias entre os 30 e os 50 anos, aos votantes “brancos” e às mulheres (onde supostamente Hillary seria imbatível).

Repito-o, pois: o que impressiona na candidatura de Obama é o seu carácter transversal, sob o ponto de vista geográfico, demográfico, social, cultural e étnico. Hillary Clinton é suportada por uma notável máquina partidária, mas não tem sido capaz de responder a este “movimento geral” de apoio a Obama. Resta saber se a sua estratégia actual – desvalorizar os resultados nos pequenos Estados e apostar tudo nos grandes prémios eleitorais – é o antídoto para o “furacão Obama” ou apenas uma imitação do “desastre Giuliani”.

Para já, segue-se o Maine (neste Domingo à noite), onde as sondagens são inconclusivas. Na terça-feira votam Virgínia, Maryland e Washington, D.C., em terrenos muito favoráveis a Obama, e que no total representam 238 delegados. Com a luta tão equilibrada, talvez Hillary não devesse menosprezar este interessante pecúlio eleitoral.

Republicanos (também) divididos

McCain é o líder incontestado entre os Republicanos, mas as vitórias de Huckabee na Louisiana e no Kansas (neste último Estado, com 36% de vantagem), confirmaram uma tendência dos últimos meses: o eleitorado conservador não se revê na candidatura de McCain, mesmo sabendo que a sua vitória é um dado inevitável.

McCain sobrepôs-se a figuras mediáticas como Giuliani, Romney ou Thompson, mas o maior desafio está por vir: conquistar a ala direita do eleitorado e unir o Partido Republicano. McCain tem o carisma necessário para o fazer, mas há muitos adversários que todos os dias brotam das trincheiras mais conservadoras para se oporem à sua candidatura.

Os Republicanos poderão ter assim que enfrentar um complexo dilema: manterem-se fiéis à ideologia que os tem caracterizado nas últimas três décadas, e arriscarem perder a Casa Branca; ou renegarem os seus princípios conservadores e apoiarem um candidato moderado – aparentemente a única forma de derrotar Obama ou Clinton.

sábado, fevereiro 09, 2008

Parabéns...

... ao Corta-Fitas, pelo seu segundo aniversário. É o meu blogue favorito no panorama nacional, pela diversidade, pela qualidade dos textos sobre política e cinema, pelo grafismo, pela selecção de fotos. Continuação de bons posts!

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Os "media" sobre os "media"

Um dos factos mais interessantes e paradoxais do fenómeno jornalístico é a relação de amor-ódio que os próprios jornalistas mantêm com os eventos mediáticos. Não há órgão de imprensa que se preze que não tenha perdido horas com o “caso Maddie”, que não escalpelize os amores de Sarkozy, que não noticie de forma espampanante o apoio de Oprah Winfrey a Barack Obama, em suma, que não se delicie com os fait-divers da política nacional e internacional. E, ao mesmo tempo, não há órgão de imprensa que não tenha feito um debate com a presença de jornalistas (e os inevitáveis psicólogos) para denunciar os males dessa cobertura exagerada sobre temas inócuos.

Este espectáculo de auto-flagelação – ou, se preferirem, de esquizofrenia – é esclarecedor: os jornalistas odeiam os fenómenos mediáticos, mas não podem viver sem eles.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

América a votos: o lado Democrata

Depois de uma noite de grande equilíbrio, as duas candidaturas têm motivos para sorrir. Obama conquistou 13 dos 23 Estados em disputa. Impressiona o carácter transversal dos seus êxitos: Obama venceu no Sul “negro” (Alabama, Geórgia), no Nordeste liberal (Connecticut), no Midwest rural e conservador (Idaho, Utah, Kansas), em Estados progressistas e industriais (Illinois, Minnesotta) e até mesmo no inóspito Alasca. Por outro lado, conseguiu uma importante penetração no eleitorado “branco” (bateu Clinton nesse segmento eleitoral na Califórnia) e entre as mulheres.

Hillary obteve uma dupla vitória: estancou a recuperação estrondosa de Obama nos últimos dias, triunfando em Estados com grande peso demográfico (Nova Jérsia, Nova Iorque, Massachusetts e Califórnia), o que lhe permitiu conquistar um número de delegados semelhante a Obama. Além disso, os dados indicam que a base tradicional do eleitorado Democrata (hispânicos, classes mais desfavorecidas, liberais das Costas Leste e Oeste) apoia fortemente a sua candidatura.

Todavia, a noite teve igualmente um sabor amargo para ambos. Obama não conseguiu capitalizar a sua dinâmica de vitória nos “grandes prémios eleitorais” e a derrota na Califórnia (por 10 pontos) terá sido especialmente decepcionante. Hillary não obteve a entronização que a própria declarara como inevitável durante todo o ano de 2007. A luta continua pois renhida e os candidatos terão pela frente semanas de grande desgaste, com dezenas de debates, angariações de fundos e ininterruptas acções de campanha. Esta já não é apenas uma disputa política, mas também uma verdadeira batalha física e psicológica.

América a votos: o lado Republicano

Confirmaram-se as expectativas: McCain venceu nos principais Estados (Califórnia, Nova Iorque, Illinois, Nova Jérsia) e está na iminência de se tornar o candidato presidencial Republicano. Romney foi uma desilusão em toda a linha, triunfando apenas em Estados pouco relevantes e no Massachusetts (onde foi Governador). Não abandonou ainda a corrida, mas nem mesmo os milhões da sua fortuna pessoal o podem salvar de uma derrota anunciada.

Huckabee obteve excelentes resultados no Sul, vencendo no Tennessee, Arkansas, Alabama, Geórgia e na Virgínia Ocidental. O candidato mais à direita desta campanha conquistou o eleitorado conservador, que se revê no seu discurso anti-aborto, anti-imigração, favorável à posse de armas, com uma forte componente religiosa e centrado nos “valores da família”.

Pela sua capacidade de mobilização deste importante segmento eleitoral, Huckabee torna-se cada vez mais numa hipótese viável para a vice-Presidência, complementando a candidatura de McCain (um político mais moderado, com forte penetração nos independentes e nas regiões costeiras). Aliás, nos discursos de ontem, Huckabee e McCain trocaram elogios, antecipando justamente uma colaboração num futuro próximo.

Informação

Nasceu há exactamente 400 anos o homem que melhor escreveu em língua portuguesa.

Duvidanças de uma mente curiosa, 74

A propósito de Hillary Clinton:

1) Depois de uma vitória absolutamente extraordinária no Estado do Massachussetts, considerarão os americanos que a nova família real americana não mais são os Kennedy, mas os Clinton?

2) Conseguirá Hillary Clinton vencer Obama no Ohio no próximo dia 4, equilibrando a sua derrota certa no Texas?

3) Se conseguir ser eleita presidente dos EUA, e tendo em vista que os americanos têm o hábito de chamar Mr. President também aos ex-presidentes, será que o seu agregado familiar passará a ser chamado de Mr. and Mrs. President?

4) Se conseguir ser eleita presidente dos EUA, ficarão certos 24 anos consecutivos de administrações presidenciais americanas dominadas por apenas 2 famílias, os Bush e os Clinton. Democracia ou aristocracia electiva?

terça-feira, fevereiro 05, 2008

E por falar em profundezas do trágico


Tim Burton, claro...

Finais (in)felizes

Na versão original do bailado “O Lago dos Cisnes”, a heroína Odette, vendo o príncipe Siegfried casar por engano com a filha do feiticeiro (o mau da fita que a havia transformado em cisne), enche-se de tristeza e, num último acto de desespero, suicida-se. O príncipe, apercebendo-se do sucedido, imita a sua amada.

Este final trágico foi representado durante mais de seis décadas. Porém, depois da Segunda Guerra Mundial, o público exigia finais felizes, e as companhias de bailado passaram a apresentar um final alternativo, em que o par derrota o terrível feiticeiro e fica junto para sempre.

Num destes dias, fui assistir à versão da Companhia Nacional de Bailado, curioso para saber qual a decisão tomada quanto ao final. Como estava anunciado que a apresentação iria seguir a coreografia de Marius Petipa (um dos primeiros dinamizadores da obra) imaginei que talvez pudesse assistir à versão original. Puro engano: o feiticeiro é derrotado, o par amoroso triunfa e o bailado termina num romantismo algo bacoco.

Pobre civilização a que não enaltece as profundezas do trágico.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Super Terça-Feira: os Republicanos

Aproxima-se o dia mais importante das Primárias americanas, no qual votarão vinte e um Estados, elegendo 1040 delegados (cerca de metade do total). Na análise dos resultados há que ter em conta dois aspectos: os Estados com maior população (e por isso com maior número de delegados) e os Estados em que existe um sistema de “o vencedor leva tudo” (que aumenta a sua importância face aos Estados onde se verifica um sistema proporcional).

McCain é claramente o favorito. É certo que na Califórnia (173 delegados) e na Geórgia (72), há dúvidas quanto ao vencedor, mas como o sistema é semi-proporcional, deve haver uma distribuição razoável de delegados que mantém a corrida nivelada. Contudo, McCain leva vantagens consideráveis (superiores a 20%) em importantes Estados de sistema “vencedor leva tudo”: Nova Iorque (101), Arizona (53) e Nova Jérsia (51). Uma tripla vitória nestes Estados, aliada a resultados positivos no Illinois e no Missouri (que as sondagens antevêem), serão suficientes para conduzir McCain ao triunfo no cômputo geral.

Romney era o favorito dos conservadores e gastou muito mais dinheiro que McCain, mas nunca conseguiu descolar nas sondagens. Só uma mobilização extraordinária dos sectores mais tradicionais do Partido Republicano poderia alterar um cenário de derrota iminente. Huckabee, o candidato da “Direita Religiosa”, poderá vencer nos bastiões “evangélicos” do Sul, mas esperam-no resultados fracos em Estados muito importantes como Nova Iorque, Califórnia ou Illinois. Não tem hipóteses no “quadro nacional”.

Super Terça-Feira: os Democratas

Vinte e três Estados votam para as Primárias, elegendo 2064 delegados (também cerca de metade do total). Os Democratas respeitam um sistema proporcional em todos os Estados, pelo que a importância dos mesmos se relaciona exclusivamente com o número de delegados de cada um. Neste particular, a gigante Califórnia (441 delegados), Nova Iorque (281), Illinois (185), Nova Jérsia (127), Massachusetts (121) e Geórgia (103) concentram atenções.

Prevê-se uma luta renhida. Hillary Clinton desperdiçou vantagens colossais e perdeu dinâmica de vitória em Janeiro. Obama, por seu turno, vai coleccionando apoios, tem vindo a recuperar nas sondagens e parece que ganha votos a cada dia que passa. A nível nacional, Hillary continua com vantagem, mas a mais recente sondagem da Gallup mostra como ela é já pouco mais que insignificante (Clinton: 46%; Obama: 44).

O equilíbrio é a nota dominante. Existe grande indefinição na Califórnia, em Nova Jérsia, no Colorado, no Minnesotta e no Connecticut. Clinton deve ganhar confortavelmente em Nova Iorque, mas Obama poderá compensar com um triunfo esmagador no Illinois. E se o Massachusetts parece ser pró-Hillary, a Geórgia deve voltar-se para Obama. Há algumas certezas, porém: a participação dos eleitores deve bater todos os recordes; as contagens de votos serão emocionantes; e dada a indefinição actual, é muito provável que este duelo se prolongue por mais algumas semanas...

domingo, fevereiro 03, 2008

Benfica (0) - Nacional (0)

Tudo vai conspirando para que este ano consiga cumprir uma das minhas frequentes resoluções de Ano Novo: deixar de ver jogos de futebol, tanto os do Benfica como os do resto do mundo...

outros tempos, 2

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Os monárquicos e (D.) Duarte

D. Duarte de Bragança, em entrevista à SIC Notícias, disse que num eventual referendo à preferência por um chefe de Estado monarca ou presidencial, "se a pergunta não fosse tendenciosa, mas séria", dificilmente a monarquia perderia.

De tal coisa não tenho dados para opinar: sinceramente, sigo um pouco Antero de Quental nesta matéria - conquanto haja democracia, república com monarquia ou monarquia com república são questões menores.

Mas há algo que sempre me fez espécie em D. Duarte e nos colegas monárquicos que tive durante a licenciatura: quem é que lhes pôs na cabeça que, mesmo que Portugal quisesse voltar a ser uma monarquia, quereria voltar ao reinado da dinastia de Bragança?

A verdadeira questão é: continuaria D. Duarte (e os seus sequazes com ele) a ser monárquico se Portugal aderisse novamente à monarquia, mas com uma dinastia de origem plebeia? Essa é que é essa...

O regicídio e a blogosfera

É interessante notar como um acontecimento histórico ocorrido há já um século inflama por aí os ânimos a tanta gente.

Não percebem nada de história de Portugal, mas como a monarquia lhes parece coisa bonita, e entendem o homicídio de um rei e do seu primogénito como a precipitação da república, insurgem-se então contra a injustiça da fealdade.

Mas a lamentação do regicídio não é tão arbitrária quanto a lamentação do ultimatum inglês, da ascensão e queda de Sidónio Pais, ou da constituição de 1933?!

Mistérios lusos...