A propósito de minudências, na sequência da elevadíssima qualidade do
post anterior do José Gomes André, e só para provar que há andrés no bempelocontrário que só escrevem parvoíces:
1) Compreendo quem goste de festas tradicionais ibéricas e de uma certa excitação pela assistência do perigo. E conheço muito boa gente nessa situação. Será então estrondoso defeito meu o pensar que ver homens adultos, vestidos como se estivessem com máscaras de Carnaval em tempo de Verão, correndo numa área circular de terra batida à frente de um animal pesadíssimo e cornudo, gritando "eh touro", "eh touro", enquanto um seu companheiro se prepara para a extraordinária actividade de puxar o rabo do dito animal, não é uma actividade culturalmente edificante por aí além? (Mas vista de relance hoje mesmo pela TV.)
2) Em época quente neste país são frequentes as "feiras" de diversões e as "festas" religiosas. Nenhuma delas se faz, obviamente, sem fogo de artifício ou
roulottes de farturas. Trata-se neste caso de uma substância que pretende ser considerada doçaria tradicional, mas que consiste parcamente num pedaço de farinha empastada com água e mergulhada num barato óleo de fritar, ao qual se juntam uns gloriosos grãos de açúcar. Como é que então a fartura granjeia fama de alimento delicioso e faz-se pagar em conformidade (1 euro para cima)?
3) Esta ideia do pequeno que se quer fazer grande, tão habitual em Portugal, remete-me para um outro episódio. Os CTT de Portugal, instituição antiga e objecto de estabelecimento de confiança por parte dos seus clientes e utentes, cresceu imenso nos últimos anos. Basta entrar num posto dos correios para perceber que lá se pode enviar correspondência com vários feitios e pesos, consultar a internet, comprar livros, postais de boas festas, certificados de aforro, roupa (sim, os CTT vendem t-shirts), pagar a luz e prémios de seguro... Um mercado, enfim. Mas porque é que os CTT não vendem ainda o que seria mais lógico que vendessem?: envelopes que não sejam de correio azul ou a enviar para o estrangeiro... (É verdade, este vosso escriba já entrou num posto de correios com uma carta dobradinha a pedir sobrescrito, chegou ao balcão, pediu um envelope para enviar a carta, e foi-lhe respondido "só de correio azul!" Perante a admiração do cliente, "Os correios não vendem envelopes?!", a face do funcionário só transpareceu estupefacção e um arzinho de "Envelopes?! Mas que puto idiota".)
4) Sou só eu que acho que as cançonetas de André Sardet são francamente parecidas com as de Tony Carreira? (Agradecimentos especiais aos meus vizinhos pela minha familiaridade com a obra destes cançonetistas.)