A propósito de algumas questões de política internacional:
1) Sócrates terá dito, em visita ao Eliseu, que
"France is back". "Back", entenda-se, à liderança dos processos decisórios maiores referentes ao novo (velho?) projecto de tratado (constituição?) para a UE. Mas se Sócrates é o primeiro-ministro do país que em breve assumirá a presidência do mais importante órgão comunitário (sim, o mais importante não é o órgão que se vota, mas um dos outros), então não seria preferível dizer que "Portugal is here"? "Here", entenda-se, a liderança dos processos decisórios maiores referentes ao novo (velho?) projecto de tratado (constituição?) para a UE.
2) Nesta nova celeuma EUA-Putin, muito se diz que a culpa é dos americanos, muito se diz que a culpa é de Putin. Os EUA pretendem montar um sistema anti-mísseis em território europeu (Polónia e República Checa), Putin não pretende ter mísseis americanos tão próximos de território russo, e como tal ameaçou voltar a fazer de territórios europeus alvos para os seus mísseis. Ora, que faz afinal a Europa no meio disto tudo? Abre as pernas aos americanos e cora de vergonha perante Putin. Ainda existe Europa?
3) A NATO é uma organização criada no âmbito da guerra fria, do lado ocidental, para suplantar o princípio da não-agressão da Carta das Nações Unidas: é tão simples quanto isso. A Carta impede que um país-signatário ataque outro país-signatário, a não ser defensivamente (e não, não está lá nada acerca do "preventivo"); para contornar isto, o Ocidente criou uma organização paralela à ONU (a NATO), a qual diz que, qualquer seu país-signatário sendo atacado, isso vale como ataque a qualquer dos outros países-signatários. Por outras palavras, os EUA, por exemplo, poderão atacar no âmbito da NATO qualquer país que perigue um signatário da NATO. Hoje, com a integração na NATO de países outrora pertencentes à URSS, pergunta-se: para que diabo serve a NATO, e que anda ela a fazer nesta história do escudo anti-mísseis?
4) Numa designação simpática, o escudo anti-mísseis já foi tratado por
star wars. Mas para haver
wars entre as
stars, não é necessário primeiro haver
stars? É que se os outros países não têm mísseis para lançar (exceptuando claro a Rússia), para que serve um escudo
anti-mísseis?
5) Fidel Castro está de volta, o Papa-invertido da América latina. Mas, ao revê-lo na imprensa e na TV, ocorreu-me: porque será que os países com organização política de tendência socialista, a qual advoga o triunfo do novo proletariado (da
multitudo, em linguagem pós-moderna de Toni Negri) e a consequente abolição da hierarquização opressora, sustentando a universalização da
igualdade (económica, social, política, cultural), são precisamente os países que mais apelam a um
culto da personalidade (de um só, entenda-se)? Castro, Chávez, Morales... Não é a natureza humana deliciosamente paradoxal?