sábado, junho 30, 2007

o belo e o sublime, 16

Glass-Wing Butterfly, Perú

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Portugal, 30 de Junho de 1967

Sobre (mais um) inaceitável gesto autoritário deste Governo – desta vez pela pessoa do ministro Correia de Campos – um texto certeiro de Tomás Vasques no Hoje Há Conquihas:

“Foi hoje conhecida a história da demissão da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho por alegada «quebra de lealdade». O próprio Ministro da Saúde, Correia de Campos, sujou as mãos na exoneração da senhora. Ao que consta, a directora do Centro de Saúde não retirou das instalações do centro um cartaz contendo declarações do ministro Correia de Campos «em termos jocosos». A directora não colocou o cartaz, apenas não o mandou retirar, nem deu conhecimento à hierarquia, segundo um assessor de imprensa da Administração Regional de Saúde do Norte. [...]

Exonerar a directora do Centro de Saúde porque não fez de delatora e não «investigou» quem colocou o cartaz, como sugere o referido assessor de imprensa, é um caminho perigoso. Aqui, em Portugal, como em qualquer país democrático. Cabe perguntar: estamos perante um caso de «quebra do dever de lealdade» de um funcionário ou estamos a entrar numa clima de intimidação que irá, certamente, acabar mal?”

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sexta-feira, junho 29, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 40

A propósito dos problemas de Fernando Negrão com as siglas:

- Como é que um juiz que confunde a EPUL, a EPAL e o IPPAR consegue escrever sentenças invocando e citando a CRP, o CC, o CPC, o CP, o CPP, a LGT? (Para os que fizeram "hã?!", fica a explicitação: Constituição da República Portuguesa, Código Civil, Código de Processo Civil, Código Penal, Código de Processo Penal, Lei Geral Tributária.)

quinta-feira, junho 28, 2007

Pactos de silêncio

Sócrates já nos habituou a estes joguinhos autoritários, mas, pelos vistos, a desfaçatez está em saldo. Era o que faltava que, durante os seis meses da Presidência portuguesa da UE, a oposição cessasse as suas críticas – em nome de uma suposta e idiota “coesão nacional”. De uma vez por todas: a “coesão nacional” adquire-se, não com manobras de silenciamento colectivo, nem com esquemas de adoração ao “Querido Líder”, mas com livre discussão de ideias, debates racionais e plurais, mútua vigilância entre órgãos de poder e uma opinião pública livre para exercer o seu espírito crítico.

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Escudo, my love

Discutiam-se os méritos de Tony Blair na SIC Notícias, quando Narana Coissoró elogiou a política económica britânica. Octávio Teixeira logo acrescentou: “pois, eles não aderiram ao Euro”. Por estes dias, são as gaffes de Negrão que marcam a agenda, mas é isto tipo de convicção serôdia, profundamente bacoca e absolutamente demagógica que, confesso, mais se assusta. Porque há muito boa gente em Portugal – e não apenas estes fósseis do PCP – que acha que os problemas económicos surgiram por causa do Euro.

Eu, que não percebo nada de Economia, sei o suficiente para compreender que, sem o Euro, Portugal estaria ao nível do crescimento da Albânia, com instituições económicas semelhantes à Moldávia, com índices de exportações idênticas à das ilhas Berlengas e com taxas de juro a rondar os 20%. Mas na cabeça destas pessoas, desde que o café custasse quarenta escudos, já valia a pena.

O cúmulo do provincianismo

A União Europeia discute o seu futuro como projecto global, conciliador e universal. As instituições da União podem conhecer a mais importante reforma desde a sua criação. A entrada de países como a Croácia e a Turquia podem levar a União ao coração dos Balcãs e às portas do Médio Oriente. A eventualidade de haver referendos nacionais que fundamentem e solidifiquem estes avanços está em cima da mesa. O que se sublinha em Portugal? O facto de o eventual Tratado para a reforma da União Europeia poder vir a chamar-se Tratado de Lisboa. Não há dúvida: Portugal não está na cauda da Europa apenas de um ponto de vista geográfico.

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quarta-feira, junho 27, 2007

Um verdadeiro defensor da liberdade

George Orwell (Eric Blair) nasceu há 104 anos. Numa época em que o comunismo e outras formas de extrema-esquerda surgiam no horizonte como alternativas ao caduco modelo fascista, Orwell denunciou veementemente o Estalinismo e revelou o que estava por detrás deste mito: o facto de o comunismo não passar de nova variação totalitarista, que menosprezava os direitos individuais e hostilizava a liberdade de expressão, a liberdade religiosa, a soberania popular e o valor da cidadania. Fê-lo através de notáveis peças jornalísticas, mas sobretudo na arte do romance.

Num período em que a democracia parece de novo combalida, e em que crescem novas formas autoritárias de controlo político, alimentando-se justamente das insuficiências e dos riscos dos sistemas democráticos, é urgente voltar repetidamente aos seus escritos.

“Era um dia frio e soalheiro de Abril, e os relógios batiam as treze horas. Winston Smith, de queixo fincado no peito num esforço para fugir ao vento impiedoso, esgueirou-se rápido pelas portas de vidro da Mansão Vitória; não tão rapidamente, porém, que pudesse impedir um turbilhão de terra de entrar com ele. [...]

O vestíbulo cheirava a couve-repolho cozida e a velhos capachos de trapos. Na parede do fundo fora pregado um cartaz colorido, grande de mais para um interior. Representava apenas uma cara enorme, de mais de um metro de largura: o rosto de um homem de uns quarenta e cinco anos, com um grande bigode preto e traços rústicos mas atraentes. Winston encaminhou-se para a escada. [...] A casa ficava no sétimo andar, e Winston subiu devagar, descansando várias vezes no caminho. Em cada patamar, diante da porta do elevador, o cartaz da cara enorme fitava-o da parede. Era uma dessas figuras cujos olhos seguem as pessoas por toda a parte. O GRANDE IRMÃO VELA POR TI (Big Brother is watching you), dizia a legenda.” (Mil Novecentos e Oitenta e Quatro).

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Duvidança Especial (18)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas?

terça-feira, junho 26, 2007

Coisas que fazem rir, 16

Neste excelente "sketch" do Tal Canal, peço especial atenção para o "filme dentro do filme": a entrevista de Ribeiro Cristóvão (minutos 1:30-1:55), um dos momentos mais altos da história da portugalidade.

segunda-feira, junho 25, 2007

Pensar a Europa

Nestes últimos dias, muita gente escreveu sobre a União Europeia e o Tratado Constitucional. Dos textos que li, destacaria uma reflexão do embaixador José Cutileiro (no Expresso), que identifica a questão verdadeiramente fulcral do projecto europeu. A sua conclusão é fundamental: os países membros deverão estar atentos aos limites de um eventual assomo nacionalista, que, a serem reconhecidos, necessariamente os conduzirão para uma solução de compromisso. É pois urgente obter este “acordo complexo” cujo princípio essencial pode, contudo, ser descrito com incrível simplicidade pelo velhinho ditado: “a união faz a força”.

Alguns excertos (sublinhados meus): "[...] com a Europa a Vinte e Sete, os Estados Unidos à rédea solta, mais ressentidos do que nunca pelos seus aliados, e com terceiros poderes a agigantarem-se no mundo, o futuro é incerto. [...] Tirando a Alemanha, os grandes da Europa parecem ter esquecido a História, querem esconder que sozinhos já não vão a parte nenhuma, tratam mal os pequenos e agitam cada vez mais o Estado-Nação contra a Europa Comunitária. [...]"

"O seu exemplo estimula os quase grandes, com a Polónia dos gémeos a exagerar. E anima por fim toda a gente: amigo estudioso dizia-me que com cada novo tratado europeu Portugal perdera soberania [...]. Mas essa é a alma do negócio. Sem cedências de soberania das nações a um poder europeu os interesses de cada europeu – liberdade, prosperidade, decência política, segurança – seriam muito menos bem defendidos do que são hoje pela partilha de tarefas e responsabilidades entre o poder comunitário novo e as nações antigas."

"[...] com efeito, o equilíbrio é difícil e exige ajustes inteligentes. Mas abrir, por populismo ou convicção, a caixa de Pandora dos nacionalismos é enfraquecer fatalmente a Europa. Os europeus já não têm impérios e só fazendo das fraquezas forças – isto é, juntando-se – poderão sobrevier no confronto com os impérios dos outros."

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domingo, junho 24, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 39

A propósito das novas declarações de Pinto da Costa:

- Como é possível que ainda se diga que FCPorto e SportingCP sejam rivais mútuos? Parece é que eles têm um rival mútuo...

A propósito do S. João no Porto:

- Serei eu o único a sentir que ver pessoas adultas a martelarem-se umas às outras com martelos de plástico de cores berrantes, despenteadas e estranhamente sorridentes, gritando com um ar felicíssimo, é uma das experiências mais estranhas ocorrendo num ano civil?

Que mais gestos e coisas idiotas dos ingloriosos anos 80 são recordáveis numa sequência causal de ideias?:

K) Remendos de roupas para os joelhos e os cotovelos;
L) Gravação de cassettes audio com selecções de músicas preferidas (para quem não passou pelos oitentas, v. o filme High Fidelity);
M) Gravação periódica (e coleccionável) de cassettes de vídeo VHS ou BETA com filmes passados na RTP (com o cuidado devido de não gravar os anúncios);
N) Furto de símbolos de viaturas automóveis;
O) O SLBenfica ainda disputando finais de competições europeias;
P) Pastilhas Gorila e Super Gorila;
Q) Proliferação de rádios-pirata;
R) Uso frequente em áreas menos citadinas de motorizadas Casal Boss e Famel;
S) Estranhas séries de TV como MacGyver, The A-Team, e Knight Rider;
T) Lançamento da série livresca que mais vende em Portugal, os livros da colecção Uma Aventura, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada;
U) Computadores MSX e Spectrum.
(Agradecimentos às contribuições familiares)

sábado, junho 23, 2007

O bufo

O que pretendia exactamente Sócrates ao fazer uma queixa-crime contra o bloguista António Albino Caldeira, devido à investigação por este conduzida no “dossier Independente”? Sócrates sabia que a sua atitude suscitaria alguma indignação, especialmente na blogosfera, além de que teria o inconveniente de voltar a trazer o assunto para a praça pública.

Não nos enganemos. Sócrates sabe que tem pouco a ganhar directamente com esta denúncia. Albino Caldeira dificilmente será acusado do que quer que seja, e as piadas sobre a Licenciatura de Sócrates continuarão até que o assunto seja completamente esclarecido (se é que isso é possível). Sócrates pretende antes obter dividendos indirectos, procurando dissuadir futuras investigações, críticas ou ataques por parte dos blogues ou de outras fontes de comunicação. Sócrates parte assim para mais uma manobra de intimidação, de acordo, aliás, com toda uma dinâmica que em tempos recentes tem sido empregue pelo Governo, pelas instituições políticas e pela administração pública (recordemos o “caso Charrua”, as “listas de grevistas”, e o recente projecto sobre a compilação de dados pessoais dos trabalhadores do Estado).

Estimular o silêncio e a obediência são, neste momento, as prioridades do primeiro-ministro. E não tenham dúvidas: fazer com que as pessoas achem que esta ideia é ridícula, persecutória, talvez mesmo conspirativa, é justamente o que este surpreendentemente autoritário socialista pretende.

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sexta-feira, junho 22, 2007

Curtas

MERITOCRACIA. Era treinador do Alverca quando este desceu de divisão. Treinava o Belenenses quando os azuis desceram de divisão (o clube salvou-se na “Secretaria”). Era treinador do FC Porto na única época nos últimos cinco anos em que o Porto não foi campeão em Portugal. Como treinador da selecção portuguesa de sub-21 falhou o apuramento para as meias-finais (perdeu com a Holanda, empatou com a Bélgica). Perdeu a qualificação para os Jogos Olímpicos de 2008. O que diz a FPF e o seleccionador Scolari sobre o trabalho de José Couceiro? Estamos muito satisfeitos. Isto é que são padrões de excelência!

PONDERADA REFLEXÃO. Há trinta dias (!!!) atrás, a directora da DREN suspendeu o Professor Charrua devido a um alegado insulto (piada?) ao primeiro-ministro. O inquérito prossegue, com os interrogatórios às vizinhas do Professor, ao dono da papelaria que viu como tudo aconteceu e às baratas que habitam o gabinete. Fiquem descansados: “a verdade dos factos vai ser apurada”.

EM ESTUDO. Contrastando com a excitação em que o Governo, a sociedade civil e outras instituições se envolveram nos últimos dias, a propósito da localização do novo aeroporto, o site da entidade especialmente criada para gerir o processo – a NAER (Novo Aeroporto, S.A.) – continua a anunciar orgulhosamente na sua página de abertura: “Bem-vindo ao site do Novo Aeroporto – OTA”. Mas claro que todas as hipóteses estão a ser discutidas...

COMEÇOU O VERÃO E ESTÃO 15 GRAUS EM LISBOA. Não foi ainda anunciado o mais recente filme de Al Gore sobre o arrefecimento global?

quinta-feira, junho 21, 2007

a arte da fuga, 13

Raoul Dufy, Le Port du Havre, 1908

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quarta-feira, junho 20, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 38

A propósito do Guia para o Cuidado Pastoral da Estrada, emitido a semana passada pelo Vaticano:

1) O texto divide-se em vários segmentos, sendo que o terceiro diz respeito a "Aspectos Humanos" (onde se inclui (a) escape from everyday life, (b) domination instinct, (c) vanity and personal glorification) e o quarto diz respeito a "Aspectos Morais da Condução" (onde se inclui (a) ethical aspects, (b) driving a vehicle and the risks entailed, (c) the obligatory nature of road regulations, e (d) the moral responsibility of road users). Porque é que os aspectos "humanos" são todos egoístas e moralmente vazios, e opostos aos aspectos "morais" da condução? Será então que o seguir a "moralidade" da condução é um fugir da condição de humano? Porque é que há ainda tanta insistência no pessimismo do que é natural?

2) O ponto 24 do dito documento afirma ser um facto que «a personalidade do condutor é diferente da personalidade do pedestre». Ora eu assumo-me como alguém que gosta de pensar que sabe conduzir. Mas confesso que só posso conduzir o meu automóvel quando me encontro dentro do mesmo, e confesso ainda que não habito no meu automóvel. Infelizmente, sempre que pretendo conduzir, tenho de me dirigir a pé até onde deixei o carro, que se encontra sempre numa via pública. E, enquanto o faço, torno-me pedestre. Terei assim uma múltipla personalidade?: Dr. Jekyll enquanto ando a pé, Mr. Hyde assim que entro no meu automóvel?

3) O documento inclui ainda, como seu ponto alto, um Decálogo do condutor. Que estranha preferência é essa que as gentes continuam a ter pela regulação normativa? E esta tendência para a normativização será um "aspecto humano" ou um "aspecto moral"?

4) Será que este documento é verdadeiramente aplicável a todos os Católicos? Bem me lembro de um dia conduzir pela auto-estrada em direcção a Lisboa, a uns 140 km/h (é verdade, eu violo as regras do Código da Estrada e algumas normas do Decálogo), e ser ultrapassado vigorosamente por um carro pequeno mas bem mais potente que o meu, o qual, pela velocidade da ultrapassagem, se deveria deslocar a não menos de 160 km/h. A minha mulher, que tem mais olhos para estas coisas do que eu, reparou certeira: quem conduzia o carro era o bispo da diocese da nossa área de residência. Bem prega Frei Tomás?

Notas do debate

Sá Fernandes (14 valores). Começou mal, com os tiques moralistas habituais do Bloco, mas melhorou quando deixou de utilizar a expressão “eu denunciei”. Excelente no capítulo dos transportes, insistindo na necessidade de criar redes de eléctricos modernos no centro de Lisboa. Confirmou uma imagem de independência e de paixão pela cidade.

Ruben de Carvalho (16). Uma agradável surpresa. Doseou uma fina ironia com a apresentação de propostas sérias, valorizando o capital humano da Câmara – quando Telmo Correia enxovalhava os funcionários. Muito bem ao relevar a importância de a Câmara não ser tomada de assalto pelo poder central, numa crítica à deriva autoritária de Costa.

Helena Roseta (13). Uma ligeira desilusão. Bom início, trazendo para a mesa o tema da cidadania e do necessário envolvimento dos cidadãos na política municipal. Igualmente positivo o apelo ao entendimento entre os candidatos. Pena que tenha batido tantas vezes nessa tecla, e sobretudo que tenha sido tão vaga em relação aos projectos urbanistas para Lisboa. Uma pessoa da sua experiência na área deveria ter sido mais objectiva e arrojada.

António Costa (8). Um desastre. O estilo arrogante é insuportável: um semblante de estadista postiço, um sorrisinho sarcástico e pose de vencedor antecipado. As propostas são o triunfo da vacuidade: é preciso uma cidade “amigável” e um executivo “rigoroso”. Insistiu na ideia de que a cidade tem tudo a ganhar com um aeroporto longínquo (ao menos é original). Voltou a utilizar o argumento hipócrita de que pode resolver os problemas financeiros devido ao bom entendimento com o Governo, e voltou a pedir uma “maioria absoluta”. A julgar pelo que se viu, vai sim continuar a obter uma minoria cada vez mais absoluta.

Carmona Rodrigues (10). Decidiu não atacar Negrão, para ultrapassar a imagem de um político ressentido. Contudo, a abordagem aos problemas financeiros foi péssima, procurando justificar o injustificável, ao traçar um cenário em pleno divórcio com a realidade. Falou do passado, das propostas do passado, das ideias do passado. Ficou a dúvida sobre como pretende corrigir os (muitos) erros destes últimos anos.

Fernando Negrão (10). Sensaborão. Parece sério, honesto, racional, mas continua a ser um peixe fora de água. Esteve bem ao considerar a Portela fundamental para o desenvolvimento do turismo, mas as suas propostas sobre a mobilidade foram surrealistas (vários parques de estacionamento na Baixa para resolver o problema do trânsito???). Foi demasiado brando para com Costa e teve várias tiradas absolutamente inócuas.

Telmo Correia (14). Péssimo início, com críticas demagógicas sobre o número de assessores de Carmona, seguido de uma diatribe contra os funcionários da Câmara. Melhorou progressivamente, e foi o que melhor falou sobre os problemas da segurança, do turismo e (espantemo-nos!) do ambiente. O mais acutilante dos intervenientes, foi também o autor da frase da noite, ao afirmar que “António Costa saiu do Governo, mas o Governo não saiu dele”.

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terça-feira, junho 19, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 37

A propósito de algumas expressões americanas:

1) Nos EUA é comum chamar-se ao respectivo presidente Commander in Chief (expressão curiosamente usada também pelo impagável Fidel Castro ao assinar as suas mensagens jornalísticas). Creio que o objectivo é sublinhar que a presidência equivale sobretudo ao topo da hierarquia das forças armadas do país. Mas se o presidente não estiver in chief, como em casos militares em que são exigíveis deliberações legislativas e não administrativas, será ele ainda commander?

2) Referindo-se ainda ao presidente do mesmo país, é também comum a expressão leader of the free world. Então em séries de TV como The West Wing [Os Homens do Presidente], que tentam dar um aspecto de sacralidade ao laico (ou um aspecto de laicidade ao sagrado, depende da perspectiva), a expressão é usada de cinco em cinco minutos. Pergunto eu, só com dúvidas: num certo sentido, esta expressão não é paradoxal?

3) Vendo Barack Obama no programa de Oprah Winfrey, percebo uma espécie de exigência que os americanos negros agora demonstram de serem chamados, por si e por outrem, de african-american [afro-americanos]. Mas essa expressão não é ainda racial e culturalmente discriminatória? É que se os americanos negros são "afro-americanos", então isso significa que não são simplesmente "americanos" (o que suscita desde logo em mim um espanto enorme, o de constatar que os americanos sabem o que é e onde fica África). Logo, quem serão os "americanos"? Aqueles que são brancos? É que se a ascendência cultural importa para todo o que é "americano", não deveriam os americanos brancos ser chamados de european-american? Ou o Novo Mundo traumatiza-se ainda com o fantasma do Velho Mundo?

4) Por falar em The West Wing, serei eu o único a só conseguir ver aquela série quando ela é devidamente legendada? É que os diálogos não são nada fáceis, e os actores debitam o texto como se estivessem num concurso de velocidade. Não haveria maneira de fazê-los falar um pouco mais devagar?

Podemos contar com ela

Ségolène Royal continua a fazer jus à afirmação de Mário Soares: trata-se de uma das personalidades políticas mais importantes do momento, “uma grande líder (...) que marca o mundo”. No rescaldo das eleições legislativas em França, que análise trouxe a candidata do jet-set? Que defendeu a campeã da vacuidade política? Deixemos a sofisticada e profunda Ségolène falar (no original e tudo!):

"Cela fait un certain temps qu'un certain nombre de supputations ou de rumeurs circulent sur moi et sur François Hollande, je crois qu'il est nécessaire, à un moment de clarifier les choses et dire très simplement que nous avons décidé de ne plus être ensemble".

(…) "j'ai demandé à François Hollande de quitter le domicile, de vivre son histoire sentimentale de son côté, désormais étalée dans les livres et les journaux, et je lui ai souhaité d'être heureux".

(…) "Comme tous les couples, nous avons connu des difficultés. Ces difficultés, j'avais choisi de les mettre entre parenthèses pendant la campagne de l'élection présidentielle puis pendant la campagne de l'élection législative, c'était aussi pour moi une nécessité pour protéger mes enfants".

Parece que, no final da sua intervenção, Ségolène Royal levantou o véu sobre o próximo capítulo da telenovela mexicana que protagoniza, anunciando que vai concorrer contra o agora “ex-companheiro” Hollande pela liderança do PS francês. O “Bem pelo Contrário" anuncia em primeira mão que o exclusivo será repartido pela Caras e pelas transmissões de Wrestling da SIC Radical.

A política? Pois, essa vai ter que ficar a cargo de Sarkozy. Cada macaco no seu galho.

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segunda-feira, junho 18, 2007

o belo e o sublime, 15

Voltamos aos sapos (Sapo-fantasma, África do Sul)

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Produtos Seleccionados

1. “Chegou o tempo dos pina-maniqueiros”, no Combustões. Sobre a deriva autoritária das instituições e dos seus obscuros meandros, personificados na guardiã da moral e dos bons costumes, Margarida Moreira.

2. "O controlo digital", no Da Literatura. Uma outra leitura muito recomendável sobre a entrevista da directora da DREN ao Diário de Notícias.

3. “Porto: estado de demência arquitectónica”, no Apaniguado. Uma crítica certeira aos projectos de Siza Vieira para as praças da cidade do Porto: o triunfo do cinzentismo e a derrota do espaço público.

4. “Marcha Nupcial”, no Kontrastes. A propósito da crise do casamento e da alteração de costumes: “Para quem acredita no amor duradouro, times are not good.”

5. “Pouco tentador”, no Bicho Carpinteiro. Sobre a forma pouco cuidada com que a obra Tentações de Santo Antão (Bosch) está exposta no Museu Nacional de Arte Antiga.

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domingo, junho 17, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 36

A propósito de TV, cinema e BD:

1) Há algumas semanas atrás, parando um pouco na TVI enquanto almoçava, deparei com o que me parecia ser um filme para adolescentes. Como ainda não há muito abandonei essa idiota fase da vida, vi o que se me oferecia. E, incrivelmente, gostei. Vim mais tarde a saber que se trata da série americana da NBC chamada Heroes. Desde então tenho visto todos os episódios da 1ª temporada, a que passa na TVI, e percebo que se torna bastante viciante. Como é possível que tudo o que de excitante se faça hoje em dia no audiovisual ocorra apenas na TV americana?

2) Há mais séries apelativas actualmente no audiovisual americano. Uma delas, muito famosa, é Lost. Ao contrário de outras séries como Heroes e 24, que contêm uma narrativa por cada temporada, e ao contrário também de séries como House e CSI, que contêm uma narrativa por cada episódio, Lost parece ter uma narrativa contínua, do género telenovela-americana. Para além disso, parece ser bastante confusa. No fundo, pergunto: o título da série refere-se às tais personagens perdidas numa ilha deserta, ou refere-se aos espectadores que tentam acompanhar impotentemente a narrativa interminável?

3) Estreou esta semana nas salas portuguesas um filme intitulado The Fantastic Four and the Rise of the Silver Surfer. Ao que parece, e seguindo indicações da imprensa, neste filme há uma espécie de confronto entre os Fantastic Four e o Silver Surfer (mais conhecido por Surfista Prateado), o qual é suposto ser o vilão da fita. Mas será este o mesmo Silver Surfer que habitava a banda desenhada da minha juventude? É que o Silver Surfer que eu recordo nada tinha de vilão, mas tão só de vítima: um sujeito condenado por um Senhor do Universo a vaguear sozinho pelo espaço infinito, com uma aparência completamente idiota, sem jamais poder voltar ao seu planeta-natal; e tudo isto porque o tal Senhor do Universo, tal Zeus perante Leda, se apaixonou e apoderou da sua noiva. No fundo, a mais trágica e deprimente personagem da banda desenhada americana. Não é estranho passar-se de vítima a vilão?: é que em Portugal normalmente é o contrário que sucede...

sexta-feira, junho 15, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 35

A propósito de algumas notícias e de uma associação de ideias:

1) Na Visão desta semana, Carlos Fiolhais afirma-se contra a construção de um aeroporto a sul do Tejo por não fazer sentido "atravessar Lisboa para lá chegar". Ora, se se construir um aeroporto a norte do Tejo, não será necessário aos milhares de pessoas que habitam a sul de Lisboa o "atravessar Lisboa para lá chegar"? Que estranha dificuldade é essa que os professores de Coimbra (também o que escreve aqui) têm em perceber que para lá da margem esquerda do Tejo ainda há mundo?

2) Joe Berardo, através de uma das suas SGPS, lançou uma OPA sobre a maioria das acções da Benfica, SAD. Muito isto se estranha, tendo em vista a fraca rentabilidade da especulação bolsista em clubes de futebol, especialmente em Portugal. Contudo, Joe Berardo é benfiquista. Porque é que o futebol teima em toldar a capacidade deliberativa dos seres humanos?

3) A propósito do segmento de Herman José que o bempelocontrario mostrou há dias, fui levado pela memória para uma sequência de gestos e objectos idiotas dos ingloriosos anos 80. Quais?:

A) Óculos escuros "de massa";
B) "Enchumaços" nos ombros;
C) Transportar o rádio do carro debaixo do braço;
D) Bolachinhas com impressões de signos do horóscopo;
E) Completa cobertura vestimental em ganga (calças, camisa, casaco);
F) Sapatos-ténis "AllStar" e "Le Coq Sportif";
G) Discos de 33 e 45 rotações de bandas masculinas com cabelos compridos até ao fim das costas;
H) Leitores ambulantes de cassettes, "walkman";
I) A "abelha Maia", o "Marco", o "D'artacão" e o "Era uma vez a vida...";
J) Excursões a Badajoz só para comprar rebuçados de pinhão.
A continuar....

O intruso

Há hábitos que nunca se perdem. (Helsínquia, no jogo Finlândia-Bélgica).

Tenham medo, tenham muito medo

A campeã da liberdade de expressão, Margarida Moreira, directora da DREN, foi entrevistada pelo Diário de Notícias. Instada a responder sobre o “processo Charrua”, afirmou tratar-se de uma campanha orquestrada contra o Governo (ó surpresa!). E quem está por detrás de mais uma cabala? A resposta nas palavras da fiel escudeira: “Nós temos tudo o que tem saído na comunicação social, nos blogues, ofícios, em tomadas de posição, em artigos de opinião...”. Pronto, estamos tramados.

quinta-feira, junho 14, 2007

O inquérito

Já passaram 23 dias – vinte e três – desde que o professor Fernando Charrua foi suspenso de funções pela fiel escudeira Margarida Moreira, a directora da DREN. Foi aberto um “inquérito” às putativas declarações de Charrua (insultos? piadas?) relativas à licenciatura de José Sócrates. Desde logo, o Governo e os dirigentes e deputados socialistas recomendaram paciência à opinião pública, de forma a que o “inquérito” decorresse com normalidade e se “apurasse a verdade dos factos”. Foi tornado público que Charrua fez as suas declarações a um amigo num gabinete e que um terceiro delator informou a directora da DREN.

Estando isto esclarecido, desculpem-me perguntar: que género de inquérito envolvendo quatro pessoas e uma frase demora três semanas? Que tipo de interrogatórios podem ser conduzidos? Que perguntas são essas que necessitam de horas e horas de formulação, e de dias e dias de ponderadas respostas? Que tipo de intrincados procedimentos pode este acontecimento suscitar? Que complexos meandros pode envolver uma situação que diz respeito a uma frase dita de A para B, ouvida por C e transmitida a D? Como é que é possível fazer um inquérito sobre este assunto em mais de quinze minutos?

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quarta-feira, junho 13, 2007

Coisas que fazem rir, 15

13 de Junho

Detesto feriados a meio da semana. As pessoas empregadas estão felizes. Não têm que ir trabalhar, não têm que aturar o patrão. Eu não estou mais feliz nem menos feliz do que em qualquer outro dia. Não tenho patrão e quero trabalhar.

As pessoas estão felizes porque podem sair à noite na véspera, ou deitarem-se tarde. Eu já faço isso todos os dias. As pessoas estão felizes porque podem acordar depois do meio-dia. Eu faço isso todos os dias, excepto nos feriados a meio da semana, porque os vizinhos de cima acordam mais cedo, para ouvir êxitos de duplas brasileiras manhosas.

As pessoas estão felizes porque “podem descansar”. Eu não estou cansado. Mas é feriado, tenho que descansar. Ou sair de casa, “para aproveitar o dia especial”. Mas o metro está mais lento, muitos sítios estão fechados, a cidade está morta. A mim parece-me o pior dia para se sair de casa.

No fim do feriado, as pessoas estão mais relaxadas, “recuperaram energias”. Eu dormi menos horas, e sinto-me culpado porque fiquei a trabalhar, ou sinto-me culpado porque não fiquei a trabalhar. Estou exausto, entediado e consumido por remorsos. Espreito o calendário: o próximo feriado é só dia 15 de Agosto. Graças a Deus.

Coisas que valem a pena, 13

No silêncio da noite.

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terça-feira, junho 12, 2007

A estratégia da aranha

A decisão de proceder a novo estudo sobre a localização do Aeroporto Internacional é uma medida correcta do governo e que se aplaude. Todavia – ao contrário de Marques Mendes (que voltou a fazer asneira, pela enésima vez) – não nos devemos cingir a este elogio. Há meses que o Governo tem enxovalhado todos aqueles que criticam a “opção Ota”, acusando jornalistas, políticos e cidadãos comuns de terem vistas curtas, de serem manipulados por obscuros e poderosos lobbies, de adoptarem uma atitude anti-patriótica, de serem enfim os Velhos do Restelo do costume. A argumentação desceu a níveis inaceitáveis, com o auge a surgir nas patéticas declarações de Mário Lino e nas tiradas autoritárias de António Costa, para quem “só os técnicos se podem debruçar sobre a questão”.

O recuo do governo vem confirmar que esta arrogância não passava de pura fanfarronice, uma manobra rasteira que intentava tão-só dissuadir os críticos pela força da argumentação populista e silenciar um debate aparentemente desconfortável.

Mas justamente porque o comportamento do governo ao longo deste processo tem sido mais que duvidoso, exige-se prudência na abordagem a este volte-face. Discute-se na imprensa se se tratou ou não de recuo, havendo quem considere ter Sócrates imitado a marcha do caranguejo. No meu entender, este episódio assemelha-se bem mais à estratégia da aranha.

Num momento em que o governo sofre severas críticas, devido a sucessivas trapalhadas e algumas reformas que suscitam um evidente descontentamento social, com as eleições em Lisboa à porta (e Costa com inesperadas dificuldades para obter a maioria absoluta), e numa altura delicada para Sócrates – com a aproximação da Presidência da União Europeia – adiar o “problema Ota” é uma jogada de mestre. O Governo vai ganhar tempo, cultivando a imagem de seriedade e rigor que os socialistas têm propagandeado nos últimos anos. Além do mais, prepara-se o terreno para uma bem mais pacífica aceitação da “solução Ota” (alguém tem dúvidas?), com a apresentação de “estudos” complementares previsivelmente desfavoráveis a outras localizações.

Realpolitik ou o triunfo da desfaçatez? Provavelmente as duas coisas.

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segunda-feira, junho 11, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 34

A propósito da final de Roland Garros:

- Se o único encontro interessante de toda a temporada é a suposta final de Roland Garros, por ser o único em que Federer não é o favorito, não seria preferível ter em Roland Garros metade dos participantes? Assim, a final não necessitaria de ser uma partida de 3 horas, com jogadores cansadíssimos na torreira do sol. Porque não fazer a final durante toda a semana entre estes dois, em jeito de playoff?: quem ganhar três encontros, ganha o torneio. Talvez fosse mais interessante...

A propósito do 10 de Junho:

1) Numa entrevista dada no Sábado ao noticiário da RTP da hora de almoço, José Mourinho, um dos condecorados pelo Presidente da República com sabe-se lá qual medalha idiota, conseguiu inserir numa curta frase o adjectivo "especial" cinco vezes: referindo-se a si (2 vezes), ao futebol, a Portugal, e a Setúbal. Fiquei com a dúvida: José Mourinho é o "Special One" por ser mesmo bom naquilo que faz, ou simplesmente o seu vocabulário não contém outro adjectivo?

2) Setúbal por estes dias ficou virada do avesso. Ruas enfeitadas, actividades culturais, visita de altas figuras do Estado, encerramento aos automóveis das vias mais próximas do rio... Ou seja, por uns escassos dias, Setúbal nem pareceu Setúbal. Tendo em vista que esta cidade é quase sempre feiíssima, e tende ainda mais a declinar (Thomas Mann deslocaria certamente o seu "Morte em Veneza" para "Morte em Setúbal"), pergunta-se: e se Cavaco Silva deslocasse o Palácio de Belém para Setúbal?

3) Para não variar, em Portugal não há festa que não acabe em fogo de artifício. Consegui assistir a um minuto, e depois desisti. Haverá coisa mais sensaborona e enfadonha? É que se o artifício não é suficiente para nos fazer pasmar e admirar, se não é imprevisível, então limita-se a ser fogo: e para isso ligo o fogão. Contudo, parece que os meus compatriotas continuam a gostar: aqui há semanas ouvi numa rádio a frase "Não perca o acompanhamento em directo do fogo de artifício na ponte 25 de Abril"; e muitos continuam a pasmar embasbacados para as luzinhas, parecendo os zombies do último filme de George Romero, que só paravam de deambular quando havia fogo de artifício. Serei eu afinal o único parvo a não mais ter paciência para estas festarolas?

Mário Soares: o delírio

Dois posts (no 31 da Armada e no Portugal dos Pequeninos) resumem o essencial da entrevista de Soares ao Expresso: um delírio revolucionário, onde se invoca a alma bolivariana para se falar do progresso da sociedade, na bonita esperança de “um mundo melhor”. Um mundo naturalmente partido em dois: de um lado, os anjos Zapatero, Chávez, Sócrates, Lula; do outro, os monstros Bush, Durão Barroso, Alberto João Jardim e a malta do neoliberalismo, que quer destruir os mais pobres, os desfavorecidos, os desgraçados...

No meio destes “momentos Francisco Louçã” jazem duas pérolas. Numa primeira ocasião, e a propósito de uma profunda reflexão sobre o liberalismo, Soares refere-se a um misterioso mas extraordinário “relatório americano” sobre as desigualdades no mundo. O que propõem esses adoradores de hambúrgueres? Soares dixit: “Neste momento, há um relatório nos Estados Unidos onde se diz que o grande inimigo já não é o terrorismo, mas o perigo que podem representar as populações do Sul, famintas, vítimas do subdesenvolvimento e das catástrofes naturais, procurando desesperadamente entrar nos países ricos do Norte. E a única resposta possível – diz o relatório – será a sua exterminação em massa!. A existência deste relatório e a formulação desta conclusão são absolutamente verosímeis...

Após esta efabulação hollywoodesca, Soares presenteia-nos com novo momento de lucidez. Instado a nomear “os grandes líderes que marcam o mundo” – “dos que estão no activo”, acrescentam os jornalistas – Soares menciona Zapatero, Tarja Halonen, Vaclav Havel, Mary Robinson, Delors e Ségolène Royal. Trata-se de uma lista notável, sem dúvida: dando o benefício da dúvida a Zapatero, quem temos nós? A Presidente da Finlândia, figura reconhecida pelos seus feitos na defesa dos alces da Lapónia; Havel, Presidente da República Checa há 5 anos atrás; Robinson, Presidente da Irlanda há dez; e Jacques Delors, que deixou a Comissão Europeia há 12. Políticos no activo? Só se for Ségolène, que habita diariamente nas revistas cor-de-rosa e em festas do jet-set francês...

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sábado, junho 09, 2007

Telminho das feiras

Ontem à tarde, encontrei na Feira do Livro Telmo Correia e os seus fiéis apoiantes. Não havia bandeiras do PP nem folhetos, mas estavam lá todos os tiques de campanha: a arruada; a comitiva seguindo obedientemente os passos do líder; os apertos de mão trocados com quem passava, indiferente; os beijinhos à senhora das farturas; o livro apressadamente folheado em bancas com muito público, a piscar o olho à cultura (mas sem um único livro comprado, naturalmente); o sorriso forçado; o acenar às criancinhas.

Estarão os agentes partidários absolutamente convencidos de que estes comportamentos patéticos trazem votos aos candidatos? Chamem-me utópico, mas estou convencido de que nem a política, nem os políticos, nem os cidadãos precisam deste circo.

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Coisas que fazem rir, 14

Uma notícia notável no Record, sobre o futebol e os costumes na Roménia:

“Gigi Becali, milionário dono do Steaua Bucareste, chocou a opinião pública ao anunciar que jamais voltará a escutar-se no estádio do clube a música «We will rock you» dos britânicos Queen. Explicação para esta atitude radical do dirigente: «A letra instiga à violência, pode ser considerada satânica e... é interpretada por um homossexual», disse numa entrevista.

Indiferente à possibilidade de ser sancionado pelo Conselho Nacional de Combate à Discriminação, pela federação de futebol local, UEFA e FIFA, Becali fez questão de explicar quem é que dita as regras no Steaua. «Sou eu que pago. Logo, tenho o direito de escolher a música que se ouve no estádio. A partir de agora serão apenas canções religiosas, que inspirem a paz e a amizade entre as pessoas. Dessa forma, acredito que não teremos mais incidentes, nem lesões».

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sexta-feira, junho 08, 2007

A culpa é tua

Os últimos dias foram pródigos na arte de lavar as mãos. João Soares, Santana Lopes e Carmona Rodrigues envolveram-se numa troca de acusações a propósito da crise financeira que assola a Câmara de Lisboa – num espectáculo pouco edificante – recorrendo a um tradicional instrumento da política portuguesa: a desresponsabilização.

João Soares encarna Lula da Silva: não viu nada, não sabe de nada, é um anjo que serviu a cidade e se houve falcatruas na sua Presidência, ele não foi informado. Mas de uma coisa tem a certeza: a culpa é de Santana e de Carmona. E se calhar, de Krus Abecassis.

Carmona Rodrigues assume o papel de Scarface: dispara em todas as direcções, acusando sem provas e abusando da denúncia sugerida; estranhamente amnésico em relação à liderança de Santana (quando era número dois do executivo), tornou-se o mestre do cliché – com ele “o que conta é Lisboa”, “as pessoas de Lisboa” e “a cidade”. A culpa, claro, é dos partidos. Os tais que permitiram que Carmona fosse Ministro das Obras Públicas e Presidente de Câmara. Malandros.

Santana Lopes, naturalmente, continua a desempenhar como ninguém o papel de Kalimero: ele é o “menino guerreiro” que queria “salvar Lisboa” das garras do lobo mau (Soares), mas “algumas pessoas” e “algumas situações” não deixaram; é tão bondoso, tão bondoso, que soube atempadamente de esquemas ilícitos perpetrados por João Soares e mesmo assim não disse a ninguém, “porque isso compete às autoridades”. A culpa é de Carmona, um ingrato; Marques Mendes, outro ingrato; e de forças obscuras controladas por Darth Vader.

A política portuguesa continua pois a ser um exemplo de virtude. “As pessoas estão de boa-fé”, garantia hoje Santana Lopes na SIC Notícias. Na verdade, a culpa é do mundo, que é mau como as cobras.

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quarta-feira, junho 06, 2007

Duvidança Especial (17)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas?

Duvidanças de uma mente curiosa, 33

A propósito de algumas questões de política internacional:

1) Sócrates terá dito, em visita ao Eliseu, que "France is back". "Back", entenda-se, à liderança dos processos decisórios maiores referentes ao novo (velho?) projecto de tratado (constituição?) para a UE. Mas se Sócrates é o primeiro-ministro do país que em breve assumirá a presidência do mais importante órgão comunitário (sim, o mais importante não é o órgão que se vota, mas um dos outros), então não seria preferível dizer que "Portugal is here"? "Here", entenda-se, a liderança dos processos decisórios maiores referentes ao novo (velho?) projecto de tratado (constituição?) para a UE.

2) Nesta nova celeuma EUA-Putin, muito se diz que a culpa é dos americanos, muito se diz que a culpa é de Putin. Os EUA pretendem montar um sistema anti-mísseis em território europeu (Polónia e República Checa), Putin não pretende ter mísseis americanos tão próximos de território russo, e como tal ameaçou voltar a fazer de territórios europeus alvos para os seus mísseis. Ora, que faz afinal a Europa no meio disto tudo? Abre as pernas aos americanos e cora de vergonha perante Putin. Ainda existe Europa?

3) A NATO é uma organização criada no âmbito da guerra fria, do lado ocidental, para suplantar o princípio da não-agressão da Carta das Nações Unidas: é tão simples quanto isso. A Carta impede que um país-signatário ataque outro país-signatário, a não ser defensivamente (e não, não está lá nada acerca do "preventivo"); para contornar isto, o Ocidente criou uma organização paralela à ONU (a NATO), a qual diz que, qualquer seu país-signatário sendo atacado, isso vale como ataque a qualquer dos outros países-signatários. Por outras palavras, os EUA, por exemplo, poderão atacar no âmbito da NATO qualquer país que perigue um signatário da NATO. Hoje, com a integração na NATO de países outrora pertencentes à URSS, pergunta-se: para que diabo serve a NATO, e que anda ela a fazer nesta história do escudo anti-mísseis?

4) Numa designação simpática, o escudo anti-mísseis já foi tratado por star wars. Mas para haver wars entre as stars, não é necessário primeiro haver stars? É que se os outros países não têm mísseis para lançar (exceptuando claro a Rússia), para que serve um escudo anti-mísseis?

5) Fidel Castro está de volta, o Papa-invertido da América latina. Mas, ao revê-lo na imprensa e na TV, ocorreu-me: porque será que os países com organização política de tendência socialista, a qual advoga o triunfo do novo proletariado (da multitudo, em linguagem pós-moderna de Toni Negri) e a consequente abolição da hierarquização opressora, sustentando a universalização da igualdade (económica, social, política, cultural), são precisamente os países que mais apelam a um culto da personalidade (de um só, entenda-se)? Castro, Chávez, Morales... Não é a natureza humana deliciosamente paradoxal?

Só sei que nada sei

Já conhecemos o horror do Procurador-Geral da República aos blogues, mas, para além disso, há algum assunto ligado às suas funções sobre o qual Pinto Monteiro tem opinião? Perguntam-lhe sobre as trapalhadas de Sócrates e o “dossiê” da Independente e responde: “Ah, e tal, não sei, só se houver queixa”. Carolina Salgado põe a nu a corrupção que grassa no futebol nacional e o senhor diz que “Ah, e tal, vou ler o livro e logo se vê”. Franquelim Lobo, um dos maiores traficantes de droga da Península Ibérica, é absolvido pelo tribunal devido a um erro processual do Ministério Público. O Procurador “não comenta”. Saldanha Sanches faz acusações gravíssimas sobre a promiscuidade entre o Ministério Público e os autarcas e Pinto Monteiro desabafa: “Ah, e tal, logo se vê se há investigação”.

Cunha Rodrigues, Souto Moura, Pinto Monteiro. Não há dúvida: com Procuradores-Gerais deste calibre podemos dormir descansados.

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Simplex

Depois do “Empresa na Hora”, o Governo criou agora o fascinante e imprescindível “Promoção na Hora”. Especialmente útil quando se trata de recompensar fiéis escudeiros que preservam a ordem socrática e veneram a sua autoridade sem hesitações.

terça-feira, junho 05, 2007

Lisboa descartável

Excertos de um texto certeiro de João Vieira Pereira, no Caderno de Economia do Expresso (sublinhados meus):

“(...) os sucessivos autarcas eleitos por Lisboa trabalham para que esta seja uma cidade para usar, mas não para viver. Tudo em Lisboa (e desconfio que no Porto também) é feito para facilitar a vida de quem se desloca todos os dias para trabalhar na cidade. Em contrapartida, quem nela mora vê a sua qualidade de vida diminuir ano após ano.

Um exemplo recorrente. Em qualquer lugar vago nas ruas da cidade surge de imediato um parque de estacionamento. Privado ou público é o negócio perfeito. A procura é garantida e a taxa de ocupação enorme. (...) No Arco do Cego (...) ainda foi projectado um jardim. Construiu-se metade, a outra é um parque de estacionamento provisório. E todos sabemos que no dicionário do autarca o sinónimo de provisório é eterno.

Falta vida em Lisboa fora dos abomináveis centros comerciais, falta o comércio virado para a rua, faltam esplanadas e espaços verdes agradáveis (...). O ar é cada vez mais irrespirável, a poluição sonora um dos maiores problemas. A isto temos de juntar os prédios abandonados, a sujidade das ruas, a degradação dos bairros típicos. (...)

Este privilégio dado a quem trabalha em Lisboa é completamente absurdo e a estratégia dos autarcas em apostar no bem-estar de quem nela não vota, talvez a maior estupidez política.”

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domingo, junho 03, 2007

a arte da fuga, 12

Henri Rousseau, Tigre numa Tempestade, 1891

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Dar o exemplo

Na sequência de mais uma cimeira do G-8, activistas de extrema-esquerda protestaram em Rostock contra o capitalismo e a globalização, apelando ao fim da Guerra no Iraque e à manutenção da paz no mundo. Em seguida, lançaram pedras, garrafas, cocktails molotov e outros engenhos pirotécnicos sobre a polícia.

700 milhões de euros?

sábado, junho 02, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 32

A propósito de algumas perplexidades:

1) Começou ontem, dia 31 de Maio, e prolongando-se até final de Julho, a primeira edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa, cujo programa até parece interessante. Mas será que se pode chamar de trienal algo que vai ocorrer pela primeira vez? Não será apenas trienal a edição segunda, passada três anos após a primeira? Caso contrário, este festival de arquitectura toma como denominação somente uma declaração de intenções...

2) Passei hoje por uma Repartição de Finanças. Ora, não é este o nome mais idiota que se pode dar a um tal serviço público? É que a palavra "repartição" remete para uma ideia de divisão e distribuição, para uma ideia de partilha. E o Fisco, mais por hábito do que por natureza, só sabe sugar riqueza para consumo do Estado. Desde quando é que o direito fiscal tem uma função redistributiva? O Estado português não partilha finanças, engole-as. Repartição de Finanças? Diria antes, Expropriação de Finanças.

3) Por incrível que pareça, na cidade de Setúbal permanecem ainda alguns cadáveres dos cartazes do PSD para a última eleição municipal (local, entenda-se), com a figura assaz sorridente de Fernando Negrão. E sempre que revejo tal figura, evoco na memória a única vez que a vi ao vivo: foi num cinema da mesma cidade, o filme chamava-se The Life Aquatic with Steve Zissou, de Wes Anderson, e a sala encontrava-se semi-vazia (maneira pessimista de dizer que estava semi-cheia). Fernando Negrão, acompanhado de dois jovens (que presumi serem seus filhos), sentou-se nas proximidades do meu assento. Ora, este filme, que considero o melhor de Wes Anderson até hoje, termina de uma maneira muito simpática, com todas as personagens dirigindo-se juntas para o barco de Zissou, ao mesmo tempo que são apresentados os créditos finais. Após isto, Seu Jorge dá-nos uma espécie de mini-concerto filmado. É enfim um dos melhores finais de filmes de que me lembro nos últimos anos, e talvez o melhor segmento do filme. Pois quando começa este final, Fernando Negrão e os dois rapazes levantam-se e saem do cinema. Nunca percebi porquê: o que leva alguém a não querer ver o que um bom filme ainda tem para oferecer? No fundo, a duvidança é a seguinte: será a minha perplexidade perante este episódio o que me faz antipatizar largamente com Fernando Negrão?

sexta-feira, junho 01, 2007

Livros: muitos, bons e baratos

A Feira do Livro de Lisboa deste ano é uma das melhores edições de sempre. Isto deve-se a três razões essenciais:

a) As Editoras compreenderam por fim que não bastava tabelar todas os livros a 20% de desconto (preço de feira) e promover diariamente uma obra a uma condição especial (30 a 40% de desconto) para conseguir cativar os leitores. Na verdade, com o elevado preço dos livros em Portugal, era praticamente impossível conseguir-se uma pechincha. Este ano, as Editoras lançam pacotes promocionais (do género “esta secção tudo a 5 euros”), saldos em múltiplas obras ou colecções e descontos verdadeiramente apelativos em livros menos procurados (poesia, obras antigas, fundos de colecção). Note-se, além do mais, que se trata de uma prática generalizada, e não apenas dos alfarrabistas ou das Editoras mais pequenas. Podemos assim encontrar clássicos da Relógio d’Água a 5 euros, os tratados de Kant nas Edições 70 a 7,5 e romances da Presença ou da Asa por vezes com 50 ou 60% de desconto. Um mimo.

b) Depois de se ultrapassar uma legislação obsoleta, a Feira deste ano está finalmente autorizada a vender livros em língua estrangeira. É certo que praticamente só os alfarrabistas o fazem, mas trata-se, não obstante, de uma boa oportunidade para encontrar livros esgotados, ou de difícil acesso nas livrarias, e mais uma vez a um preço convidativo.

c) Estando concluído o Túnel do Marquês (sai um foguete!), a Feira regressou ao seu local tradicional, aproximando-se da rotunda. Eis um pormenor de grande importância, já que nas últimas três edições a Feira ficava situada no alto do Parque, numa zona muito íngreme, o que tornava o passeio num verdadeiro suplício para pernas cansadas. Eis um obstáculo que este ano definitivamente não se coloca.

Até dia 10 de Junho, a Feira está aberta das 16 às 23h (24 aos fins-de-semana). Não há desculpas.